Física une Brasil e Canadá
Cooperação com o Perimeter Institute envolve mobilidade e cursos de extensão e pós-graduação
Por Marcos Jorge
Uma série de atividades envolvendo principalmente o ensino e a extensão marcou a parceria estabelecida este ano entre o braço sul-americano do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP-SAIFR) e o Perimeter Institute, do Canadá. A colaboração entre o centro localizado no Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e o instituto canadense promoveu dois eventos destinados a melhorar a qualidade do ensino médio: um workshop para professores e um minicurso para estudantes sobre tópicos atuais da física teórica.
A parceria já havia produzido a realização de um curso intensivo que selecionou 90 alunos da América Latina e premiou os melhores estudantes com um curso de pós-graduação conjunto entre os institutos de física brasileiro e canadense.
PROFESSORES
O workshop gratuito Cutting-edge In-class Physics Resources, nos dias 17 e 18 de setembro, teve como proposta capacitar professores do ensino médio sobre temas atuais e complexos da física teórica, como matéria escura, física de partículas e astronomia.
Participaram do curso 42 professores das redes pública e privada. “Foi uma excelente experiência para discutir questões atuais de física teórica, de modo que possamos levá-las para as nossas salas de aula”, comentou Danilo Claro Zanardi, professor de Física do Colégio Dante Alighieri.
O Perimeter foi responsável por elaborar e disponibilizar o material didático. “É uma importante oportunidade de atualizarmos nossos conhecimentos e ações didáticas”, afirmou Miriam Rosenfeld, da Escola Estadual Maria José. O material, em inglês, está disponível gratuitamente no site do instituto canadense no endereço https://store.perimeterinstitute.ca/.
ESTUDANTES
Alunos do ensino médio foram o alvo do curso gratuito Relatividade, Gravitação e Mecânica Quântica, realizado todos os sábados do mês de setembro. “A nossa proposta é mostrar conteúdos da fisica moderna, que não está no currículo do ensino médio, mas está nos jornais e nas novas tecnologias”, explica Pedro Gil Vieira, português ligado ao Perimeter e ganhador da Medalha de Gribov de 2015, prêmio concedido pelo European Physical Society por sua pesquisa em teoria quântica de campos.
Sem usar a matemática avançada e aproveitando-se ao máximo de diagramas e imagens como recursos didáticos, Vieira conseguiu cativar os alunos no estudo dessa nova física. “Ele consegue explicar de uma forma que a gente consegue entender. Especialmente a forma com que esses conteúdos se aplicam à fisica”, comenta Vinicius Kenzo Takia, aluno do 3º ano do ensino médio no Colégio Agostiniano Mendel.
Yulia de Castro chegou ao curso por sugestão de seu professor na ETEC de Itatiba, no interior de São Paulo. “Eu gostei da física desde o primeiro contato que tive com a disciplina ainda no ensino fundamental”, assinala. “Antes de me matricular olhei o programa do curso e o currículo do professor e percebi que seria uma oportunidade única.”
A parceria com o instituto do Canadá também já está promovendo a troca científica entre pesquisadores. “Temos dois pós-doutorandos de cada um dos institutos trabalhando juntos e acredito que essa parceria deve render a publicação de um artigo nos próximos meses”, destaca Vieira.
REFERÊNCIA INTERNACIONAL
Criado em 1999, o Perimeter Institute é uma referência internacional em pesquisa no campo da física teórica e mantém vínculos estreitos com diversas instituições canadenses, especialmente com a Universidade de Waterloo. Entre os cientistas notáveis vinculados ao instituto está o norte-americano Stephen Hawking.
Além da pesquisa, o Perimeter Institute reserva um departamento exclusivo para tratar de projetos ligados à extensão, em especial para levar questões da física para o público em geral. “Somos um instituto que faz pesquisa, mas temos esse forte componente de divulgação científica que foge um pouco do perfil típico de um centro de pesquisa. Organizamos muitas palestras científicas para o público leigo e desenvolvemos diversos materiais didáticos relacionados à física”, ressalta Vieira.
Pós-graduação para latino-americanos
Voltado para alunos de graduação, o Journeys into Theoretical Physics foi realizado entre os dias 18 e 23 de julho e foi a primeira atividade realizada pela parceria com o instituto canadense. O curso foi amplamente divulgado entre os departamentos de física das universidades da América Latina e recrutou os 90 melhores estudantes da região. Ao longo da semana de curso intensivo, os estudantes assistiram a aulas sobre mecânica quântica, teoria da relatividade, física de partículas, entre outros temas, ministradas por professores do IFT e do Perimeter Institute. Um exame final encerrou as atividades e os cinco melhores colocados foram premiados com uma bolsa de estudos de dois anos para realizar um curso de pós-graduação promovido conjuntamente pelos dois institutos, além de um valor em dinheiro.
A programação prevê que nos primeiros seis meses os cinco estudantes façam um curso introdutório no IFT e depois passem dois semestres no Canadá. Lá, os estudantes serão matriculados no Perimeter Scholars International, um curso abrangente desenvolvido para alunos estrangeiros, que cursarão disciplinas sobre todas as áreas da física teórica. “Embora o aluno possa já ter decidido por uma subárea de pesquisa, ele vai fazer disciplinas em todas as áreas. Isso é um ponto forte do programa do Perimeter porque permite ao aluno conhecer todas as áreas antes de se concentrar em um tópico específico”, explica Nathan Berlovitz, professor do IFT e diretor do ICTP-SAIFR. Nos últimos seis meses da programação, os estudantes retornarão ao IFT para elaborar uma dissertação final, sob orientação de um supervisor do instituto brasileiro e de outro do Canadá. A ideia é que nessa dissertação os estudantes foquem mais especificamente em uma área da física teórica. “Queremos repetir essa escola no IFT todos os anos. Faremos uma fotografia de cada uma das turmas e, daqui a alguns anos, quando esses físicos estiverem espalhados por universidades pelo mundo, eles terão essa foto como uma espécie de elo”, idealiza Pedro Gil Vieira, pesquisador do Perimeter.